Sim, foi um certo poder aquilo que se viu e sentiu em cima do palco do Coliseu desde o primeiro momento em que Chan Marshall o pisou, do alto dos seus invlugares sapatos brancos. Daí para cima, toda vestida de preto (excepção feita a uma camisa verde seco rapidamente dispensada), Cat Power arrebatou pela sua presença invulgar e confusa, ora frágil ora simplesmente devoradora de vida e plena de força. Dona de voz rara e que por vezes parece roçar o cansaço, Cat Power parece afirmar-se hoje como uma referência internacional, verdadeiramente digna do respeito colectivo e já longe dos largos anos de más vivências e de exarcebada falta de auto-estima. Agora, acompanhada de excelentes músicos e com um óptimo albúm de versões muito particulares na bagagem, a auto-consciência foi mais visível e a atitude mais confiante do que noutras passagens por Lisboa e pelo mundo – ainda assim pintalgada de diversos momentos de delírio, infantilidade ou sensação de desconforto. Mas é neste mix que está parte da sua graça. No Coliseu, a artista provou que não faz falta acertar em todos os agudos para se levar boa música ao público. Esse, algo frio e expectante, demorou a passar a barreira da desconfiança. Olhou, ouviu, olhou mais profundamente e só consegiu libertar-se muito próximo do final, quando a cantora fez questão de entrar pela plateia adentro e daí cantar “I love you” alto e a bom som. E a boa luz – já que pediu expressamente que as luzes fossem acesas, para um intenso cara-a-cara com aqueles que a aplaudiam e que na hora da despedida continuaram a aplaudir durante dez longos minutos. Das mais longas despedidas de que há memória em palcos portugueses. E ela, sem sequer dar mostras de interesse em oferecer um encore ao seu público admirador, parecia aliviada pela missão cumprida (é conhecida a sua falta de à-vontade na hora de pisar o palco) e feliz por aquela merecida salva. Atirou flores, distribuiu vénias, desenhou corações com as mãos, pulou, enfim, agradeceu. E nós também. Até breve.
terça-feira, 27 de maio de 2008
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