quinta-feira, 24 de abril de 2008

Ao Q. e à L.

A vida é bruta. A vida é cruel. Porque dá mas também tira sem aviso prévio. Ninguém manda aqui em nada e ninguém escolhe a sua hora. Quando há alguém que escolhe, é porque algo não está bem, porque algo se perdeu. A vida é assim, inexplicável. Ninguém é de ninguém e já deviamos saber isso. Deviamos interiorizá-lo de uma vez por todas. Para não doer quando já não se tem. A vida é fodida.
Ao Q. e à L., que o céu lhes seja infitivo. Como a vida.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

É numa destas que parto amanhã





Sonho

Esta noite sonhei coisas horríveis que me vieram agora de repente à cabeça. Depois de uma grande trapalhada (que incluiu um fuga em andamento de um autocarro cujo destino era Barcelona, mas com passagem por Santarém), acabámos os três - eu, o L. e a S. - a sermos barrados numa espécie de fronteira, algures em Espanha, de mochilas às costas e já sem dinheiro para mais subornos. "Ó filha, no fundo estamos aqui todos a ser rifados" - foi a resposta à minha pergunta em forma de pânico "mas afinal o que é que se está aqui a passar?". E dali só podiamos seguir para a frente dois de nós. Havia muita gente na mesma situação e aos que ficassem não se sabia o que aconteceria; certo era que coisa boa não se avizinhava. E de repente eu, que era que se tinha chegado à frente com os únicos 150€ do grupo, tinha de escolher entre o L. ou a S. para seguir caminho comigo. Parecia uma espécie de campo de concentração. A S. era a S., mas ele não tinha BI... O ambiente estava sinistro, mas no momento em que já tinha convulsões por ter de escolher alguém...acordei! Weird stuff.
Amanhã estaremos os três a caminho de Espanha e não terei de farei grandes escolhas para além de para onde ir e por que caminho ir!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Senhores da CP:

Por favor tragam de volta os bancos verdes de napa do mítico Inter-Regional. Sim, aqueles onde nos podiamos encostar, recostar e/ou deitar, sem qualquer tipo de cerimónia e que se confundiam com os senhores do serviço militar que viajavam ao fim-de-semana. Estes bancos cor-de-laranja que vocês têm agora não têm piadinha nenhuma - são muito direitos, muito rígidos e muito individualistas. Ah, e não são os de sempre, pronto. Meus Senhores, um comboio Inter-Regional não tem de ser igual a um metro. E já agora, se vez em quando pudermos ouvir os carris para termos a certeza que estamos num comboio e não num autocarro expresso, melhor ainda. Fica o pedido.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Hoje é o Dia Mundial da Voz

E ironicamente não consigo dizer uma palavra...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Assim parece fácil

Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos

Tu estás só e eu mais só estou
Tu que tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta

Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás

Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia
Tu continuas à espera

Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada

António Variações

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Guilty

Tenho uma mania desagradável: a de chegar a sexta-feira e meter-me à procura de motivos para me sentir mal, para me culpabilizar até à inconsciência e para não poder ir de fim-de-semana solta, leve e fresca como manda a lei. E parece incrível, mas eu consigo sempre ir desencantar qualquer assunto trágico-chato para me martirizar. Ora deixa cá ver hoje - que até tenho estado tranquila e, de bem com a vida – hoje, repito, que assunto poderei retomar para acabar a semana lavada em lágrimas e a sentir-me a pior pessoa do mundo? Que isto de se ser só feliz não me parece nada bem. Tenho alguma atravessada para dizer a alguém? Algum sentimento de culpa a matar-me cá por dentro (e se não tiver arranja-se)? Fui uma boa amiga esta semana? Uma boa ex-namorada? Uma boa hipotética futura namorada? Uma boa filha? E não é preciso pensar muito, num ápice há algo que se vislumbra como boa matéria para esmiuçar até ao tutano e um bom assunto para resolver – mesmo que não haja nada para resolver. As sextas-feiras têm sido assim – dias de grandes, enormes, gigantescos problemas (na minha cabeça, claro). E de algumas - mais pequenas, quase insignificantes - resoluções. Afinal, há que aproveitar o dia em que posso passar uma noite a chorar e não ir trabalhar no dia seguinte com os olhos feitos duas anonas. E haverá alguém que goste de um bom draminha mais do que eu, mesmo quando a vida só me dá razões para sorrir e estar feliz? Às vezes, além de pobre, sou muito mal agradecida.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Irracionalidade precisa-se

Ainda não sei se é sorte ou azar, mas a verdade é que à minha volta só circulam pessoas racionais. Ao longo da minha vida tenho procurado conselhos e inspirações em pessoas racionais porque na verdade são as que se encontram em maioria no meu rol de afinidades. E isso incomoda-me? Talvez, um bocadinho. E porquê? Porque as pessoas racionais são pessoas enervantemente certas, que raramente tomam decisões erradas ou das quais se arrependam e que sabem pensar com frieza, conseguindo facilmente chegar a conclusões úteis para as suas vidas. Há coisa mais enervante do que isto? Há. Por exemplo o dar-me conta de que nos últimos anos – e desde que sou aquilo que se pode considerar uma pessoa “adulta” – só tenho feito como essas pessoas, ou seja, agido quase sempre com montanhas de racionalidade perante os meus dilemas e escolhas diárias – umas mais profundas, outras nem por isso. Oiço o que as pessoas racionais (e acauteladas) têm para me dizer, concordo (às vezes à força, mas concordo) com as suas opiniões e pumba, dou por mim e estou outra vez a fazer coisas racionais! Não compro o carro que amava ter porque já é velho e só me vai trazer chatices ou simplesmente porque não é uma boa aposta para o futuro; não alugo uma casa e opto antes por comprá-la porque sempre é dinheiro gasto em alguma coisa que fica para mim e que me garante um tecto no presente e no futuro; não tiro a carta de mota e não arranjo uma Vespa velhinha para fazer casa-trabalho-casa porque “estás doida, não me metas nisso, as motas são um perigo” (a este argumento juntar também o do cabelo oleoso devido ao uso de capacete); não largo tudo para ir fazer voluntariado durante um ano porque “e depois, o que vai ser de ti depois?”. E assim se vão passando os meus dias e as minhas escolhas. Eu até fico bem com isso de fazer coisas certas; sinto-me “adulta” e responsável. Mas pena que seja só durante algum tempo. De repente, e contra todas as previsões, lá vêm elas outra vez - as dúvidas, as inseguranças, os “ó meu deus, mas porque é que eu não comprei o raio do chaço que me ia dar tanta pica nesta estrada esburacada que está mesmo a pedir aventura e cabelos ao vento?” É que se eu fosse uma pessoa que assumisse naturalmente a minha irracionalidade ou aquilo a muito chamam de “loucura” eu podia fazer os maiores disparates do mundo e arrepender-me mil vezes por cada passo dado, que arranjaria sempre maneira de estar super feliz, nem que fosse por dois dias. Do tipo: pobre mas feliz. Ou antes: sem casa, mas feliz. Sem exageros, claro. E será isto assim tão difícil de alcançar? Será assim tão difícil eu meter na cabeça que nem só as coisas certas são as que nos fazem mais felizes e completas e que está na hora de pensar mais em mim e nos meus sonhos e desejos? Acho que dou demasiados ouvidos às pessoas certas. Regra geral, acho que dou demasiados ouvido às pessoas. Caramba, eu devia ouvir-me mais a mim mesma, aqui e agora, e pensar menos no amanhã, no futuro, no que virá. Pelo menos durante algum tempo posso ser feliz. E depois logo se verá.

sábado, 5 de abril de 2008

Música no Feminino

Cada uma delas tem algo da minha pessoa ou eu gostava de ter um bocadinho de cada uma delas em mim. Ora porque são doces e intensas, ora porque se alimentam de uma poderosa força que encostam qualquer um à parede, que intimidam, que arrepiam. O meu coração estremece quando oiço qualquer uma destas cantoras. Destas artistas. Destas pessoas. São mulheres, mas até podiam ser homens. Ou talvez não.

Tori Amos
Genial. Intimista, desafiadora, camaleónica; uma cantora comovente e uma excelente pianista. Poderosa.

Fiona Apple
Fresca, agressiva, rebelde. Fortíssima.

Janis Joplin
Emoções ao rubro. Uma hippy invertebrada. Voz e vícios levados ao limite. Marcante. Inesquecível.

Elis Regina
Mulher furacão. Dramática e muito emocional. A expressão em pessoa. Uma cantora intensíssima.

Ani di Franco
Uma voz doce e arrepiante. Ícone do feminismo e dos direitos das mulheres. Irónica, iverente e explosiva. Mas doce.

Sara Tavares
Cabo-Verde no BI, o mundo inteiro nas influências, o brilho na interpretação; quente e envolvente.

Amy Winehousese
Menina problemática, voz inesquecível. Fervor apaixonante.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Cão que ladra e morde

Adoro viver no meu bairrinho - onde às nove da noite sai tudo à rua em pijama para conversar com a vizinhança (um mimo) - e até gosto de cães; regra geral, não tenho medo deles, não me incomodam e até gostava de ter um se a minha casa não tivesse meio metro quadrado. Agora, que um caniche daqueles mesmo meia leca me siga até casa com um ladrar ridículo que mal se ouve e a mordiscar-me as pernas irritantemente - enquanto a dona e a vizinha de baixo continuam na amena cavaqueira e em perfeito desprezo pelo facto de uma desconhecida vizinha ter o animal literalmente à perna - isso sim, já acho um abuso e uma falta de sentido de boa vizinhança! Minha senhora do roupão rosa choc e chinelos semi-desmiolados, desculpe lá, não gosto de ser implicantezinha... mas e eu sei lá se o seu bichinho não tem raiva e se de repente não se vira para me comer viva? Bem sei que a sua converseta ia animada e que não apetecia nada interrompê-la, mas um bocadinho mais de atenção para com aqueles que um dia lhe podem vir a ser muito úteis se faz favor e, em última análise, um bocadinho mais de amor pelo seu canídeo que, para a próxima, talvez desapareça misteriosamente e apareça a morder as pernas a alguém do bairro do lado.