Ainda não sei se é sorte ou azar, mas a verdade é que à minha volta só circulam pessoas racionais. Ao longo da minha vida tenho procurado conselhos e inspirações em pessoas racionais porque na verdade são as que se encontram em maioria no meu rol de afinidades. E isso incomoda-me? Talvez, um bocadinho. E porquê? Porque as pessoas racionais são pessoas enervantemente certas, que raramente tomam decisões erradas ou das quais se arrependam e que sabem pensar com frieza, conseguindo facilmente chegar a conclusões úteis para as suas vidas. Há coisa mais enervante do que isto? Há. Por exemplo o dar-me conta de que nos últimos anos – e desde que sou aquilo que se pode considerar uma pessoa “adulta” – só tenho feito como essas pessoas, ou seja, agido quase sempre com montanhas de racionalidade perante os meus dilemas e escolhas diárias – umas mais profundas, outras nem por isso. Oiço o que as pessoas racionais (e acauteladas) têm para me dizer, concordo (às vezes à força, mas concordo) com as suas opiniões e pumba, dou por mim e estou outra vez a fazer coisas racionais! Não compro o carro que amava ter porque já é velho e só me vai trazer chatices ou simplesmente porque não é uma boa aposta para o futuro; não alugo uma casa e opto antes por comprá-la porque sempre é dinheiro gasto em alguma coisa que fica para mim e que me garante um tecto no presente e no futuro; não tiro a carta de mota e não arranjo uma Vespa velhinha para fazer casa-trabalho-casa porque “estás doida, não me metas nisso, as motas são um perigo” (a este argumento juntar também o do cabelo oleoso devido ao uso de capacete); não largo tudo para ir fazer voluntariado durante um ano porque “e depois, o que vai ser de ti depois?”. E assim se vão passando os meus dias e as minhas escolhas. Eu até fico bem com isso de fazer coisas certas; sinto-me “adulta” e responsável. Mas pena que seja só durante algum tempo. De repente, e contra todas as previsões, lá vêm elas outra vez - as dúvidas, as inseguranças, os “ó meu deus, mas porque é que eu não comprei o raio do chaço que me ia dar tanta pica nesta estrada esburacada que está mesmo a pedir aventura e cabelos ao vento?” É que se eu fosse uma pessoa que assumisse naturalmente a minha irracionalidade ou aquilo a muito chamam de “loucura” eu podia fazer os maiores disparates do mundo e arrepender-me mil vezes por cada passo dado, que arranjaria sempre maneira de estar super feliz, nem que fosse por dois dias. Do tipo: pobre mas feliz. Ou antes: sem casa, mas feliz. Sem exageros, claro. E será isto assim tão difícil de alcançar? Será assim tão difícil eu meter na cabeça que nem só as coisas certas são as que nos fazem mais felizes e completas e que está na hora de pensar mais em mim e nos meus sonhos e desejos? Acho que dou demasiados ouvidos às pessoas certas. Regra geral, acho que dou demasiados ouvido às pessoas. Caramba, eu devia ouvir-me mais a mim mesma, aqui e agora, e pensar menos no amanhã, no futuro, no que virá. Pelo menos durante algum tempo posso ser feliz. E depois logo se verá.
terça-feira, 8 de abril de 2008
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