segunda-feira, 18 de abril de 2011

eu vinha aqui ver se me inspirava e se escrevia qualquer coisa. ou antes, ver se teclava - que é o termo pós-moderno para o acto de deixar rasto por via das palavras) e se me auto-impressionava com algum escrito de jeito.
vinha falar dos espanhóis e de Madrid ou dizer que tenho saudades de Lisboa - ou precisamente concluir o contrário, que essa coisa de dizer que se sente falta da nossa cidade quando já não se está nela já me parece um certo cliché pós-moderno que os emigrantes inventaram para serem cool e criadores de tendências.
vinha procurar metáforas vulgares sobre o tempo e os estados de alma e dar o meu testemunho de como a primavera me sobe o astral. vinha dizer o que nunca na vida pensei dizer - por exemplo, que hoje em dia me doem menos os pés com saltos altos do que com os rasos, ou pisa-mierdas, como lhes chamam aqui em Espanha. maldita esta mania a minha de cravar o calcanhar no chão como quem maneja o pilão africano - vulgo almofariz.
vinha dizer que agora até acho graça a alguns blogues que por aí andam e que são chiques e trendy (e pós-modernos?), mas que por outro lado me irrita que todos tenhamos esta mania de que "fazemos coisas diferentes e temos gostos eclécticos, somos open minded e até gostamos de pic-nics e actividades dessas assim a puxar mais para o vintage".
vinha filosofar sobre a vida, sobre os (atrasados) propósitos para 2011 ou sobre as mil e uma viagens que ainda quero fazer antes de morrer (ou antes de ter filhos), vinha fazer um post com fotos giras ou falar do lado obscuro das grandes empresas dos fatos bonitos e das conversas desinteressantes ao almoço, apresentar argumentos contra ou a favor do novo ortográfico ou escever um par de linhas sobre o porque é que já não me choca começar pargágrafos com letra minúscula nem a pontuação necessariamente correcta.
vinha fazer imensas coisas. mas acabei confusa com as mil mensagens que o blogger me deu ao fazer login na minha conta, quase todas com termos pós-modernos que eu já não domino e dicas intermináveis de como melhorar a performance do meu blogue, e o número de visitas e o dinheiro que posso fazer com anúncios e os trezentos mil templates novos para dar mais design à coisa. demasiada e complexa informação, para que te quero? só se for para me sentir mais ultrapassada (para não dizer burra) neste universo cibernauta, em que todos temos um reino e  cada um vive a sua ilusão de que um dia será alguém que ficará para a história, como no antigamente.
agora os tempos são os modernos - em que é tão fácil chegar "lá" e tão difícil manter-se, porque atrás já vem outro - e isto já não está para quem não é rápido. eu até queria mudar o aspecto deste blogue, mas era muito mais fácil quando as opções eram menos. 
e posto isto agora vou ler as frequently asked questions e ter esperança de todo um mundo pós-moderno se voltará a abrir para mim.
ah! e vou curtir o meu mau feitio para outro lado.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

[moinha] deixa-te ficar

Isso, assim, sossegadinha, não te mexas. Não faças nada por ti nem pela tua vidinha de quase trinta anos. Deixa só que os próximos trinta sejam iguais aos que já passaram. Desiste dos teus sonhos e fica com os dos outros. Acompanha-os e vê como se vão tornando realidade. Vê como brilham - os outros e os seus sonhos - como se lhes descolam as solas dos sapatos do chão e como pairam por aí, de sorrisos rasgados, missões cumpridas e leves, leves. Os outros são tão bonitos quando voam que quase não faz falta quem o faça também. E assim dá para ficares só a contemplar - que é como estás bem. Deixa-te ficar, não te esforces. Nem te queixes. Na verdade não te falta nada. Os sonhos só servem para te despistarem e teres outras coisas em que pensar. São só maçãs de Eva, para que é que perdes tempo com isso? Irra, miuda.
A sério, deixa-te ficar. Afinal, as crianças com fome terão sempre fome, o que fazer? E o mundo já tem tanto dom à solta que nunca serias a melhor, nem razoavelmente boa. Nem seque a dar pão. Ninguém ia notar se o fizesses. Não te esforces, vê so a beleza que é alguém estender uma mão com pão. Agora chora, vá, emociona-te com os gestos sinceros dos outros e pensa só mais uma vez no quão reconfortante seria seres tu a dar esse pão - para ti e para todos. Agora responde ao e-mail que acabou de te entrar nessa caixa virtual, não te evadas demasiado. Só porque te cansas. Desgastas-te a divagar pelo que podias dar ao mundo. Seria tanto que não saberias por onde começar. Por isso é tão melhor nem começares nem arriscares nada. Quietinha para não teres de tomar decisões difíceis nem te expores. Deixa-te la ficar sossegada. Os teus sapatos de salto alto com os tacões esburacados aguentam mais uns anos se os tratares bem. E assim como assim, há sempre um metro a passar a cada cinco minutos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

take 2

E não fosse a semana estar a ser demasiado "boring" no que toca a viaturas... que tal sair do trabalho num dia de chuva, dar uma volta ao bilhar grande (e outra, não vá não ter visto bem) e o carro não estar em lado nenhum? Melhor ainda só se houver um reboque metido ao barulho, 140 balas para recuperar o carro e as trombas do pessoal do centro de "movilidad de Madrid", onde o ambiente mais estanque e pesado que um corredor da morte nos Estados Unidos.

Foi tão giro.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

amor é...

Ficar sem gasolina em pleno centro de Madrid, à porta de uma qualquer sede do Gobierno de España (onde por acaso se estava a passar um directo qualquer para a televisão espanhola) e ter de apanhar um taxi de ida e volta até à bomba mais próxima. A chover.

Assim sim, um dia dos namorados divertido. Enquanto uns se passeiam em forma de coração e se enfiam restaurantes com menus a preços de revirar os olhos, outros metem a conversa em dia dentro de um taxi, com uma garrafa de água vazia, pronta a receber um mísero litro e meio de combustível para safar a coisa.

É também por isto que nos adoro!