quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

[moinha] deixa-te ficar

Isso, assim, sossegadinha, não te mexas. Não faças nada por ti nem pela tua vidinha de quase trinta anos. Deixa só que os próximos trinta sejam iguais aos que já passaram. Desiste dos teus sonhos e fica com os dos outros. Acompanha-os e vê como se vão tornando realidade. Vê como brilham - os outros e os seus sonhos - como se lhes descolam as solas dos sapatos do chão e como pairam por aí, de sorrisos rasgados, missões cumpridas e leves, leves. Os outros são tão bonitos quando voam que quase não faz falta quem o faça também. E assim dá para ficares só a contemplar - que é como estás bem. Deixa-te ficar, não te esforces. Nem te queixes. Na verdade não te falta nada. Os sonhos só servem para te despistarem e teres outras coisas em que pensar. São só maçãs de Eva, para que é que perdes tempo com isso? Irra, miuda.
A sério, deixa-te ficar. Afinal, as crianças com fome terão sempre fome, o que fazer? E o mundo já tem tanto dom à solta que nunca serias a melhor, nem razoavelmente boa. Nem seque a dar pão. Ninguém ia notar se o fizesses. Não te esforces, vê so a beleza que é alguém estender uma mão com pão. Agora chora, vá, emociona-te com os gestos sinceros dos outros e pensa só mais uma vez no quão reconfortante seria seres tu a dar esse pão - para ti e para todos. Agora responde ao e-mail que acabou de te entrar nessa caixa virtual, não te evadas demasiado. Só porque te cansas. Desgastas-te a divagar pelo que podias dar ao mundo. Seria tanto que não saberias por onde começar. Por isso é tão melhor nem começares nem arriscares nada. Quietinha para não teres de tomar decisões difíceis nem te expores. Deixa-te la ficar sossegada. Os teus sapatos de salto alto com os tacões esburacados aguentam mais uns anos se os tratares bem. E assim como assim, há sempre um metro a passar a cada cinco minutos.

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