quinta-feira, 23 de julho de 2009

Carta ao Jonas

Caro João José Barradas Baptista, se me estás a ler:


Obrigada por fazeres com que hoje esteja a teclar neste meu brinquedo branco novinho em folha. Não mo ofereceste, não violei a tua conta bancária nem o teu Visa, não assaltei a tua casa e nem sequer sei quem és ou por onde páras. Mas devolveste à Fnac um computador que me quiseram vender como sendo novo. Eu cheguei a casa, em delírio com a minha tão sonhada e sofrida compra, e eis que me deparei com a tua tromba, todo tu gordinho e cheio de barbas, a sorrir imenso de felicidade - tal e qual eu instantes antes. Falaste no messenger, viste filmes, instalaste coisas e depois por alguma razão devolveste a máquina, não ficaste satisfeito. Tal como eu não fiquei quando te vislumbrei pela primeira vez. Como se não bastasse, bloqueaste o computador a quem não soubesse a tua password e eu não tive outra hipótese senão fazer, também eu, uma implacável devolução. Mas hoje agradeço-te porque me fizeste ir à luta e andar de Fnac em Fnac à procura de um novo e seladíssimo computador, sempre a levar com a porta na cara. Sempre "too late", sempre esgotado, sempre fim de stock. (Nos entretantos, a tua cara a aparecer-me em sonhos, sorridente e feliz e eu com vontade de estrangular-te e cortar-te em postas. Também eu a querer matar o menino da Fnac que se esqueceu de formatar de novo o computador - eu não teria dado por nada nem nunca me teria sentido enganada!) Mas obrigada. Porque na última jogada acabei por encontrar, órfã e perdida a precisar de carinho, a máquina com que sonhava há meses, mas o modelo acima e ao mesmo preço. Que chato. Foi caído do céu e a recompensa por ter sido persistente. Ou foi uma mãozinha tua. Tu sabias, não era? Sabias que no Corte Inglês alguém se enganaria a colcar o código de barras e eu acabaria por fazer o negócio da vida, não era? Melhorado e mais bonito mas a valer o mesmo que o antigo. Esplêndido, obrigada. Achaste foi que ainda assim não estava a ser suficientemente merecido e aumentaste o degrau e a valeta que estavam onde eu tinha o carro estacionado. Ainda te riste um bocado com o meu brutal estatelamento no chão, de computador recém-adquirido na mão... pois, eu entendo. Eu também me ria, se fosse com outro. Um pé torcido em dor lacinante há dois dias, uma mudança de casa para fazer em pé coxinho... mas um Mac novo na mão... tu consideraste uma distribuição justa. E eu olha, que remédio senão achar o mesmo. Além disso, fizeste-me confirmar que a vida não é fácil e que as vitórias sofridas são as que sabem melhor - obrigada uma vez mais. Poupei dinheiro na concretização deste velho sonho/fetiche/tira-teimas/capricho. Gastei algum em pomadas e meiazinhas-elásticas, é certo. Mas, ainda assim, se for para trazer destes bens ao mundo, afinal podes sempre voltar. Grande Jonas.

relendo o post anterior

(às vezes sofro de sentimentalismo saudosista crónico)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

até já

Hoje sou eu quem parte e, irónicamente, sou eu quem vai apagar as luzes e fechar esta porta que abri durante quatro anos, num gesto que terá tanto de cinematográfico como de surreal. Visualizei este dia várias vezes, sonhei com ele outras tantas. Mas nem me dei conta de como se foi aproximando, de fininho, ameaçando ser mesmo verdade. E na hora dessa verdade, fico só nestas paredes, a fazer hoje o que já não poderei fazer amanhã. Porque o amanhã já não vai existir. Não aqui, não assim, não dentro desta porta, debaixo destas luzes, ao lado destas pessoas - com estas pessoas, por estas pessoas. Não com o rio à minha direita, não ao som deste telefone que não acredita que já todos foram de fim-de-semana, não ao sabor das graças do recepcionista que merece todo este mundo e o outro. Irei para outras bandas. Não sem antes passar pela despedida, este acto doloroso ao qual umas vezes me rendo, outras vezes finjo apenas que não existe. Dói. Mas por pouco tempo. Custa. Mas só até vir outra coisa. É deixar para trás. Não, é olhar para a frente. É chorar. Ou será rir de alegria? É ter de esquecer ou é querer lembrar sempre? É saudade antecipada ou é medo do que possa vir? É "até sempre" ou é "finalmente livre"? É conforme bate o vento, parece-me. É o que eu quiser que seja. Se calhar nada disto, provavelmente, um pouco de tudo. É assim. Porque tem de ser assim, porque a vida é bola para a frente e tristeza para trás. E é uma catarse boa, mas eu preferia que não existisse. Pelo menos aqui e agora, pelo menos quando todos me abraçam e me sorriem, cúmplices, nervosos, excitados, generosos, oferecendo presentes e palavras bonitas. Exultando, recordando, emocionando, despedindo-se, um a um. Amanhã será doce, para já, ainda é esquisito.
Hoje, aqui só, vou apagar estas luzes pela última vez. Amanhã, encontrarei outras para acender. É só mais um ciclo a fechar-se e outro a iniciar-se. E pronto. Vou mas é curtir; que isto a vida são dois dias e um, certamente, não será para deprimir.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

cor de burro quando foge

Nos dias que correm sinto-me uma pessoa sem graça. Não ando a acompanhar nenhuma série de Tv, não ando a ouvir até à exaustão um específico Cd no carro, não estou a seguir nenhuma tendência de moda em particular, não vou ao cinema há uns tempos, não descobri nada de excitante no meio da rua, ou de um jornal, ou de uma revista. Continuo sem ter um i-pod, um i-phone ou qualquer outro “i” que não sejam os “ais” da vida, não cometi nenhuma loucura, não perdi o fôlego com nada, nem o piu, nem o chão, nem sequer a carteira. Continuo sem fazer o malfadado relatório de estágio, continuo a cheirar ao mesmo e duvido muito que algum dia mude de colónia. Ainda não cortei o cabelo como queria. Não tenho fotografado o que desejava, não tenho sequer sonhado muito. Continuo a não saber ainda o que vou vestir nas vésperas dos casamentos. Não me esfolo por nada nem ninguém em especial, agarro o que se me atravessa à frente. E os meus dias seguem-se assim, neutros e amorfos, sem luz, nem dialectos, nem delírios nem espantos. E há também a forte possibilidade de estar a exagerar, mas porra, não há por aí uma Gripezinha A só para diversificar um bocado a rotina? Isto deve ser do calor, dá-me para os disparates.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

brigde(ing)

porque este fim-de-semana também houve praia.



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sexta-feira, 3 de julho de 2009

hoje só quero...

sal no corpo
...
passado na cabeça
...
futuro nas mãos
...
...