sexta-feira, 17 de julho de 2009

até já

Hoje sou eu quem parte e, irónicamente, sou eu quem vai apagar as luzes e fechar esta porta que abri durante quatro anos, num gesto que terá tanto de cinematográfico como de surreal. Visualizei este dia várias vezes, sonhei com ele outras tantas. Mas nem me dei conta de como se foi aproximando, de fininho, ameaçando ser mesmo verdade. E na hora dessa verdade, fico só nestas paredes, a fazer hoje o que já não poderei fazer amanhã. Porque o amanhã já não vai existir. Não aqui, não assim, não dentro desta porta, debaixo destas luzes, ao lado destas pessoas - com estas pessoas, por estas pessoas. Não com o rio à minha direita, não ao som deste telefone que não acredita que já todos foram de fim-de-semana, não ao sabor das graças do recepcionista que merece todo este mundo e o outro. Irei para outras bandas. Não sem antes passar pela despedida, este acto doloroso ao qual umas vezes me rendo, outras vezes finjo apenas que não existe. Dói. Mas por pouco tempo. Custa. Mas só até vir outra coisa. É deixar para trás. Não, é olhar para a frente. É chorar. Ou será rir de alegria? É ter de esquecer ou é querer lembrar sempre? É saudade antecipada ou é medo do que possa vir? É "até sempre" ou é "finalmente livre"? É conforme bate o vento, parece-me. É o que eu quiser que seja. Se calhar nada disto, provavelmente, um pouco de tudo. É assim. Porque tem de ser assim, porque a vida é bola para a frente e tristeza para trás. E é uma catarse boa, mas eu preferia que não existisse. Pelo menos aqui e agora, pelo menos quando todos me abraçam e me sorriem, cúmplices, nervosos, excitados, generosos, oferecendo presentes e palavras bonitas. Exultando, recordando, emocionando, despedindo-se, um a um. Amanhã será doce, para já, ainda é esquisito.
Hoje, aqui só, vou apagar estas luzes pela última vez. Amanhã, encontrarei outras para acender. É só mais um ciclo a fechar-se e outro a iniciar-se. E pronto. Vou mas é curtir; que isto a vida são dois dias e um, certamente, não será para deprimir.