Não é todos os dias, mas de vez em quando acontece. Se há coisas para as quais uma lady acha sempre que está preparada (porque já se esqueceu de como foi da última vez), uma delas é ir pintar as pestanas - coisa que parece ridícula, mas para quem tem ar de bifa e não mostra ao mundo nem uma pestaninha só porque as que tem são pantone 000 (leia-se brancas transparentes), de vez em quando apetece lembrar que há por aqui dois olhos delineados (as pessoas normais, leia-se morenas, não sofrem destas necessidades). E então uma pessoa atira-se para a frente e arma-se em mulherzinha a caminho do centro de estética.
Primeiro é tudo lindo e maravilhoso. A marquesa que se reclina sozinha, o colchão que aquece como que por milagre, os sorrisos que se trocam, as promessas que se fazem, as massagens que adormecem o corpo. Pouco a pouco, a salinha com cheiro a ceras e a descolorantes começa a transformar-se em paraíso na terra. Mas seguem-se as pequenas torturas, uma por uma. A saber algumas:
- os pedacinhos de película aderente (igual à da cozinha, mesmo!) colados aos papos dos olhos;
- o tal do rôlinho (em brasileiro) que cola que se farta e que arrepanha que se farta se não fica bem posto à primeira (é prá sigurá a pêstaninha, é mêlhó assim, viu?);
- o cheiro a almoço que as mãos da delicada operante de vez em quando emanam;
- o “arreganhar” de pálpebra para colocação insistente e repetida de tinta negra (e de repente imagino-me em forma de choco) e a guerra que é não deixar que o olho abra;
- a espera... com kilos de algodão em cima dos olhos;
- o estado de dopping generalizado e o imaginar da triste figura que se está a fazer;
- o sentir que de repente se tem algo na cara – e não, não são mais massagens. Mas esta agora passou-se... uma pinça? Uma pinça nas minhas sobrancelhas, que é coisa que nunca depilei na vida, porque não quero nem preciso? Tic tic tic... não, se calhar são energias laser para o bem-estar... Ou não, é uma pinça a operar... onde eu nem sequer tenho pêlos! Ai raios a partam à menina. Ok, era mesmo uma pinça e foi muito rápido, mas se calhar nunca mais cá venho porque agora fiquei ofendida - não se invade assim o entre-sobrancelha alheio;
- e finalmente, as lágrimas. Porque a tinta não sai à primeira e porque arde como álcool em feridas abertas. Passa-se um breve momento de sofrimento, pensa-se que se vai cegar, chora-se sem querer, entra-se num tímido desespero.
Depois paga-se e sai-se com um olhar muito mais afirmado, é certo, mas com a sensação de que se levou dois murros nos olhos ou de que se acabou de chegar de um enterro. E novamente com a promessa de não voltar a fazer tal coisa nos próximos largos meses.
Perdão se este texto tem erros, mas ainda tenho os olhos embaciados.
*E se depois de tudo isto ninguém reparar no upgrade, alguém me vá resgatar ao Tejo.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Ir do céu ao inferno em menos de vinte minutos*
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1 comentário:
Maravilhoso! Definitivamente és a minha "palhaça" preferida...
Choro a rir so de te imaginar! Well done
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