Três sobrinhas aos "olhos"de uma Polaroid cujo rolo está passado da validade há cinco anos.
As mesmas três sobrinhas aos olhos de uma delas, num rabisco que demorou menos cinco minutos.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Analogias pós-serão
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Natal antecipado*
Um dia irás à Feira da Ladra e alguém te dirá para levares o que quiseres da banca, que tudo aquilo que até então custava talvez uns 50 cêntimos pode ser levado por zero. Que é só escolher, menina, é só escolher... que eu já estou aqui a arrumar os meus tarecos para ir para a apresentação lá nas Novas Oportunidades.
Mas tem a certeza? Tenho, então não tenho! Leve lá o que quiser... olhe, se não quiser nada leve para oferecer a alguém!
Hoje foi o dia.
*ou:
"Quem pouco tem, muito dá - lição de vida nº 534"
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Sou o Peter Pan
E o meu mundo chama-se Terra do Nunca.
E na minha Terra comemos ilusão ao pequeno-almoço.
E gostamos de voar, é fácil.
E voando temos muitos sonhos, lindos e intermináveis. Alguns parecem reais.
E então consigo ser muitas coisas e ter muitas profissões.
E ao jantar fazem-nos acreditar nos outros mundos e nas outras Terras.
E é tudo lindo.
Só é pena não conseguirmos sair de lá.
Nunca.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Manhãs difíceis *
Pior do que ficar parada no meio duma rotunda a caminho do trabalho por falta de gasolina, só mesmo ser surpreendida pelo próprio do chefe enquanto bato perna até à bomba, resignada à triste figura de ter de ir encher o jerrican e voltar para carro para abastecer à beira da estrada. Pior ainda: isto acontecer num dia em que me lembrei de vestir calções.
* ou "Apetecia-me mesmo era uma manhã diferente e só por isso deixei o carro chegar ao limite (não, não foi preguicite aguda, que ideia essa!)"
ou "Cada um faz a cama em que se deita".
terça-feira, 11 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Pormenores
Casamentos são bons e recomendam-se – para quem se queira meter neles. Para os que vão assistir e participar da alegria alheia são também altamente recomendáveis, sobretudo a partir daquela parte em que um copo já é um convidado especial e em que a vida já só faz sentido em modo tu-cá-tu-lá com toda a gente, tetravós e empregados de mesa incluidos. Até lá, e para as menos práticas nestas coisas - como eu – , vive-se o drama, o horror e a tragédia, ferozmente agravados quando se trata de um casamento no Inverno. O vestido, o soutien, a écharpe, o casaquinho, a meia, a meia suplente, o sapato, a unha da mão, a unha do pé, o cabelo, o penteado, o brinco, o colar, a pulseira, o anel, a carteira - assim de repente consigo enumerar dezasseis alvos a abater, para não referir a depilação que se deseja prévia e regularmente feita. E eu invejo loucamente quem consegue ter toda uma visão global e que a um mês do evento já tem tudo mais do que decidido e esticadinho no guarda-fatos à espera do “dia D”. Já eu, prossigo a minha luta interior e exterior que é a busca, não digo do kit perfeito mas do kit com que já amanhã me apresentarei à sociedade (e que sociedade!). Os alinhavos estão feitos, falta a derradeira prova de fogo: apenas (e apenas!) confirmar que o sapato dá com o vestido, a carteira com o casaco, o brinco com o colar, o collant com o tom de pele, enfim, que a bota bate com a perdigota. A escassas horas do événement, já não há tempo para indecisões nem trocas. Neste momento, seja o que Deus quiser. E “vivós” noivos, que na verdade é o que importa.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Saudade
E agora ele estava aqui outra vez e afinal nada tinha acontecido. Estaria a começar a ir para casa, onde só chegaria em cima da hora do jantar. Pelo caminho ia parar algures para lanchar ou petiscar, dando uso à tão sua arte de bem comer. Depois parava mais umas três ou quatro vezes à beira da estrada para falar com este e com aquele e para oferecer cães, fechar negócios, inventar programas e fazer cinco combinações para um mesmo dia e uma mesma hora – sendo que não faria nenhuma delas mas sim uma outra coisa que só surgiria no próprio dia e afinal muito mais importante do que todas as outras. Durante a viagem até casa, ia pegar no telefone para devolver todas as chamadas não atendidas. Foste tu que me ligaste? Eu? Sim, liguei... mas essa chamada já foi há dois dias! Ah, ok... Mas pronto, não fazia mal e aproveitava para perguntar se estava tudo bem. Quando chegasse a casa ia dar pela falta de qualquer coisa, fosse a carteira que tinha ficado em cima do capot do carro e que tinha voado, fosse um papel importante, fosse um encontro com alguém que estava à espera dele desde manhã. E perguntava o que era o jantar. Provavelmente, ao mesmo tempo que fizesse esta pergunta, estava a atracassar-se aos tachos e então era vê-lo a fazer em três tempos aquilo com que vinha a sonhar todo o caminho – aquela costoleta, aquele arrozinho molhado, aquele bifinho da vazia e, claro, aquela batatinha frita cortada às rodelas depois da faca devidamente afiada (estou a ouvi-lo, vigoroso e orgulhoso: zuc zuc zuc... ah, isto sim é uma faca como deve ser, não é cá estas porcarias com que vocês se amanham). Depois até ia dar gosto vê-lo regalar-se com o seu repasto. O telefone não ia parar de tocar e iamos pedir-lhe vezes sem conta que falasse mais baixo, enquanto dava voltas à casa e arrancava as crostas da cabecinha fracamente povoada de cabelo. Quando finalmente se sentasse no seu sítio de sempre para ver televisão e comentar as varizes da Dalila Carmo - ou que pileca que era a Patrícia Tavares ou que rico decote tinha a Catarina Furtado naquele dia - de certeza que ia querer algo doce. E nessa altura, eu seria a cúmplice e iamos abrir e fechar portas até descobrirmos uma lata de leite condensado ou de pêssego em calda que nos traria a felicidade por meia hora, até enjoarmos. Se tudo falhasse, ele teria um plano B e de lá do fundo, por entre as portas e as novelas, iamos ouvir o tlim tlim tlim da colher a bater na caneca de leite morno com açucar. Por amor de Deus, não tens idade para beber isso. Ah pois não não tenho, vocês é que não sabem o que é bom! Depois os olhos iam começar a fechar, as mãos a pendurarem-se na barriga, os óculos a escorregarem, suaves, pela cara. Ia acordar estremenhado e perguntar por tudo o que não tinha visto, o fim do filme, quem tinha ganho, o que é que o júri tinha dito daquele concorrente. Estás a ver, quem é que sabe? Gostavas de ser assim também, gostavas, de dar opiniões como as dos júris?, gracejava sempre da mesma maneira. E depois ia para a cama aos trambolhões, um passo sempre a ouvir-se mais do que o outro, mas ambos pesados. Ou antes fortes, como ele. Dormiria como um santo, ressonaria como um urso. E acordaria no dia seguinte, como um menino acabado de pôr no mundo. Com tudo para descobrir, com tudo para fazer, com tudo para gozar. Sim, ele é sabia o que era bom.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
É Novembro, estavamos à espera de quê? *
Saio para almoçar e no elevador alguém diz que está constipado, que se sente doente, que não está muito bem, que nem sequer tem muita fome e bla bla bla. Saio do edifício outro alguém passa e diz que apanhou uma valente constipação no fim-de-semana. Só oiço espirros, quase que vejo os micróbios e as viroses a passearem no ar e a fazerem-me razias. Tudo a assoar-se e que chatice que é o Inverno, atchim, atchim, bolas estou cá com uma carraspana, ó que saudades do Verão e não sei quê. Ranho, lenços de papel, barulhos de quem tem o pingo a cair e tenta trazê-lo para dentro outra vez – ou então não. De volta ao elevador, bem estás cá com uma voz! Pois, é esta constipação que está a dar cabo de mim, não me sinto nada bem, acho que estou a ficar doente, sinto o corpo dorido e outra vez a mesma conversa...
Que seca de gente.
* Ou "Como eu estou irritada por ainda não ter comido castanhas".