quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

2-0 ( ou a cidadania pelas ruas da amargura)

Desde a última vez que perdi a carteira que estou sem Bilhete de Identidade. Minto, desde a penúltima vez que perdi a carteira que estou sem BI – isto já lá vão quatro meses. Ora, eu sei que esta conversa já cheira mal e decidi ontem arrancar finalmente com a minha “legalização”. Fizeram-me a devida publicidade e eu achei por bem experimentar o estreante e tão badalado Cartão do Cidadão que, num só rectângulo rígido cheio de chips e afins, concentra uma montanha de documentos. Informo-me sobre tal prodígio e qual não é o meu espanto quando percebo que tenho de fazer um agendamento (tipo marcação de consulta) só para para ir à Loja do Cidadão dizer que quero pedir o meu Cartão de Cidadão. Quer dizer, não basta ir lá e requerer - e nem sequer se pode pedir em todas as Lojas de Cidadão -, para brincarmos aos cartões únicos temos de esperar que nos digam quando podemos ir lá fazer o pedido do brinquedo. E depois então é que se seguem os procedimentos (eu disse esperas??) normais. Eu até posso perceber que este sistema de “agendamento” evite filas e que lhes facilite a vida... o que eu não entedo é porque é que nos pedem um e-mail com sugestão de dia e hora, se sabem à partida que não há vagas para os próximos dois meses. Pedem desculpa pelo transtorno causado e lavam daí as suas mãozinhas moles. Minto: pedem para, em vez do e-mail, que se ligue (para um número que não funciona) a saber que vagas há. Parece que andamos a brincar - como quando eu era pequenina (só um bocadinho mais do que agora) e brincava às secretárias; agarrava nos agrafadores e abria-os a fingir que eram telefones, toda eu cheia de ares importantes, tal e qual as personagens ricalhaças das novelas brasileiras da altura. Se calhar sendo assim, volto ao singelo BI de toda uma vida - amarelo, froxo, vincado, démodé, que não cabe em carteira nenhuma e com o qual os nuestros hermanos gozam declaradamente: Péro... y el DNI ese, qué le pasa? Joder, qué raro, no? Uma pessoa a querer ser o supra-sumo da cidadania e dá nisto - às vezes os extremos tocam-se. E com venham mais uns meses de clandestinidade.

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