quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Revival/Prediction

E depois descemos, escorregadios, até ao larginho – aquele lá em baixo à direita, por onde entra o povo e saí o fumo, o cheiro, a embriaguez. Sabemos onde queremos chegar e onde vamos chegar, conhecemos aquela euforia e temos a certeza que entrar por ali adentro significa não ter hora para sair. Ainda assim, prego a fundo com os pés semi-descalços e a borracha a queimar até lá abaixo, onde muitos outros já estão, delirantes, imparáveis, indomáveis. A luz tosca e amarela, a música confusa, o cheiro intenso como o calor, a entranhar-se, a aninhar-se, a fundir-se. Ou se ama ou se odeia - nós amamos. E rendemo-nos ao baile ainda no caminho, celebrando e escorregando mais, lábios escurecidos pelo vinho, cabelos encrespados pela gordura, confusão, suor. As saias curtas, as carteiras pequenas, a permissividade total. As cores berrantes e desafiantes, a música muito mais alta, o corpo muito mais frágil, os esgares perdidos no éter, no rodopio, nas rodinhas, nos abanares de ancas; os braços no ar os cigarros nos queixos, os pés negros, ressequidos, invariavelmente esmagados. É sempre muita gente, demasiada gente – onde se enfia tanta gente durante o resto do ano? – muitas combinações, muitos desencontros, tantos imprevistos. E a música sempre alta, endiabrada, a embacear os relógios. O tempo não passa - voa e pisca o olho como que aliciando “aproveita, isto só volta a acontecer daqui a um ano”. E volta a acontecer, igualzinho, parecido, na mesma rua que desce, na mesma praceta ao fundo à direita, o mesmo cheiro, o mesmo fumo, o mesmo caos, a mesma felecidade proclamada. Tudo se repete, supera-se e dilui-se novamente no tempo. Assim foi, assim será. E ainda bem.

2 comentários:

RUTH disse...

hmmm curiosa com esse acontecimento.
Pó ano chama a malta!

Nuno Alentejano disse...

É o larguinho no fim da Bica???