quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ashes and wine

E hoje a dor. Aquele aperto no peito que vem de fininho e que não matando, vai moendo que nem caruncho. Que parece não passar de uma grainha mas que, vai-se a ver, já ganhou vida própria e já ultrapassou o volume de um camião tir.
Camião tir... tira-me mas é daqui, que este fosso é escuro e eu não vejo a saída.
Dá para falar?
Dá, pois claro que dá. Mas quando eu souber o que dizer. Se chegar a saber.
Não é melhor esclarecer?
Tentar já não será mau. Daqui a bocado.
Mas e a dor? Não estava forte? Não te queres libertar dela?
Deixa-a estar. Prometi-lhe que lhe dava abrigo, um bocadinho só. Até sermos uma só e nos resumirmos, cada uma, à sua triste insignificância.
Não faças isso, vais dar cabo de ti. Não faças de ti carne para canhão.
No canhão já eu estou e não descubro a porta da saída. Era ali, mesmo ali... parece que vejo uma luz mas de cada vez que me chego perto ela chispa-se. E enquanto eu não acender a luz, esta maldita dor não se vai apagar, a filha da mãe. Chata.
Talvez se eu respirar fundo três vezes esta moela trituradora comece a ocupar menos área. Com mais espaço conseguirei abrir melhor os olhos, imagino, e é possível que as minhas retinas se vão habituando ao breu que me enxovalha neste buraco. Talvez se for tacteando este espaço exíguo o comece a entender como ao meu próprio corpo e ele se torne menos sinuoso. Lá estará a luz, nessa altura, a indicar-me o sentido. Vou perceber que ela sempre esteve lá, que eu é que fechava muito os olhos sempre que me aproximava dela. Com medo da cegueira. E se calhar nessa altura até tudo não terá passado de um sonho mau.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mto bom pufa! a continuar.
o canivete